quarta-feira, 31 de julho de 2013

Hélio Basto, Um Grande Marco da Arte Baiana, Um Ser Humano Introspectivo, Porém Um Artista Genial.


Por Ernesto Simões


Um dos grandes valores das Artes Plásticas Baianas e Basileiras o Pintor Hélio Basto, já falecido há algum tempo, morreu no esquecimento da maioria e das galerias, embora tenha sido um grande marco da arte moderna na década de 50, assim como produziu uma obra sempre coerente e em evolução até os últimos dias de sua vida. Tive o privilégio de conhecê-lo pessoalmente através de um amigo  em seu Atelier Residência, localizado no centro da Cidade de Salvador, bem próximo ao Relógio de São Pedro. O Artista vivia modestamente, morava de aluguel e embora já tivesse em outro momento o seu próprio, porém desfez-se, não tinha ambição de status e nem de dinheiro, gostava de viver como artista, no seu atelier, o importante era criar e ganhar para sobreviver.  Já tinha muitas referências de sua pessoa, mas principalmente de sua maravilhosa obra, através de um dos seus grandes admiradores e colecionador do seu trabalho, o renomado arquiteto Ronald Lago, que tem verdadeira paixão pela sua Pintura. Sempre tive o desejo de conhecê-lo pois sua postura enigmática causava-me admiração, sendo apresentado por uma das raras pessoas que tinham acesso ao mesmo, José Batista, pois Hélio, muito introspectivo, refugiava-se em seu mundo pessoal e a poucos era permitido compartilhá-lo. Algumas vezes o visitei e fui intermediador para   apresentá-lo à professora Vania Bezerra de Carvalho,  de História da Arte Brasileira e Mestra em Teoria da Arte pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, de quem fui monitor por 2 anos da disciplina que ministrava, e desta forma sendo ela fascinada pela  obra de Hélio e pela sua postura artística, assim como pela personalidade e genuinidade e na época, objetivou escrever um livro,  e por várias vezes a acompanhei nas entrevistas, para que pudesse dissertar sobre a vida, obra e trajetória do artista e como historiadora resgatar a sua História.


Hélio uma pessoa cheia de personalidade, com grandes olhos sempre atentos, notívago, tendo verdadeiro hábito por cigarro e cafezinhos, uma das suas grandes companhias, ao visitá-lo sentia-me próximo a um mito, pois sua grande paixão a Pintura que se dedicava totalmente, mesmo muito doente e praticamente isolado  do mundo exterior.

Sobre Helio refere-se Vania com toda propriedade e conhecimento, pois in loco pesquisou e dele teve depoimentos:

“trata-se de um artista independente. Não está ligado a grupo ou tendência, mostrando uma coerência incrível. Sentimos sua evolução dentro da linha de continuidade. Ele sempre se manteve da arte com dignidade, sem fazer concessões”... “se sente meio desambientado da Bahia de hoje, angustiado com a imagem de sua terra que não é a mesma de tempos passados. Como se a Bahia tivesse perdendo a sua alma."... “Nessa desumanidade,  a Bahia não reconhece seus verdadeiros valores”.


Vania já escreveu e publicou em jornais e períódicos de artes, alguns artigos sobre Hélio, inclusive entrevistas  com o artista, a idéia do livro continua em seus planos.

O Artista juntamente com Carlos Bastos, Mario Cravo, José Pedreira frequentava a Boate Anjo Azul, Na Rua do Cabeça nos idos  de 50, local onde se promovia encontros  de artistas,  um point  na época, e  juntos foram  pioneiros  da  arte moderna  na  Bahia.  Hélio se decepcionou muito  com a sua terra e daqui saiu indo morar  por vários  anos  em São Paulo, mas depois retornou e viveu aqui até a sua morte. 

Helio Basto teve uma fase surrealista, depois retratista e nos últimos tempos, na pintura encontrou uma nova linguagem, desvencilhando-se dos tons sombrios, da luz e sombra dos retratos, cedendo lugar a um trabalho onde o geometrismo e  a relação figura espaço compõem e definem a obra pictórica, num desenho ritmicamente harmonioso, pois era um grande desenhista, utilizando-se de  cores puras, chapadas, com forte contraste, mas sempre com muita luz, suavizando a obra, e o lirismo de suas composições.


Um exemplo de retrato, esta bela tela onde representa uma mulata  com toda sua expressividade, onde os recursos de luz e sombra preponderam, mas como sempre imprimindo nesta sua criação, o conhecimento do desenho e genialidade.




Outro retrato significativo do artista Hélio Basto, da também artista baiana e amiga do Pintor, Yêda Maria, que reflete e reafirma o talento e versatilidade da sua Obra, do percurso  e transformação estilística, onde os fortes contrastes de luz e sombra, vai cedendo lugar a simplificação na representação da forma, abstraindo-se dos detalhes, das configurações realistas, imprimindo assim uma maior expressividade tanto no traço, na  forma, compondo com superposições e indicações de espaço e contrastes de tons.



Seus últimos trabalhos, fase onde a simplificação da forma e espaço, assim como os tons chapados, aliados a um desenho primoroso e principalmente  a figura e espaço interagindo-se com lirismo e sensibilidade refletem a sua maturidade e coerência artística.






O principal das últimas pinturas de Hélio é sua marca registrada, impregnada nas suas criações e tenho a certeza que fica fácil identificar sua obra, nesta bela e moderna ambientação.




E desta forma presto minha homenagem a Hélio Basto, um dos grandes artistas baianos e do cenário Nacional.

4 comentários:

  1. Quantas genialidades desconhecidas!!! Amei!!!
    Grata, Thelma

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  2. Bela homenagem, Ernesto! Adorei conhecer um pouco da obra e vida de Hélio Basto, um artista que infelizmente eu não conhecia e agora, através do seu blog, tive o enorme prazer de conhecer! Abraços,
    Lenira Rebouças

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  3. Tenhho na minh cabceira um anjo mais ou menos como este azul, branco e cinza. Quando estive em Salvador consegui um quadro do Helio Bastos. Hoje moro fora e gostaria de saber onde posso vendê-lo, pois não tenho herdeiros e prreciso aproveitar um pouco mais a vida. Pela homenagem a este pintor talentoso.

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  4. Que coisa maravilhosa ver isso. Fiquei emocionada ao ver o nome do meu sogro Ronald Lago nessa breve Biografia de Hélio Basto. Posso afirmar com a convivência que tive com ele, pois recentemente falecido, ter ouvido pelo menos 100x o nome de Hélio como grande amigo. Ronald realmente admirava muito o trabalho do pintor.

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